Você aprendeu o básico sobre intubação na faculdade, talvez até decorou os passos… Mas na hora da prática —com paciente instável, adrenalina a mil e um ambiente caótico — é aí que os erros mais perigosos aparecem. E o pior? A maioria deles nem é técnica, mas sim de preparação, decisão e gestão da situação.
Aqui vão os 5 erros mais comuns que podem custar caro na hora H, e como evitá-los:
⚠️ 1. Esperar demais para intubar
Erro clássico: esperar o paciente “ficar muito mal” para tomar a decisão.
⠀
Na prática, quem espera saturação cair pra 80%, frequência subir pra 40 rpm ou o paciente começar a “bocejar ar” já perdeu tempo demais.
Exemplo prático:
O paciente está hiperventilando, agitado, SpO₂ caindo progressivamente e com tiragem intercostal?
→ É hora de agir. Não espere ele entrar em parada para então querer correr atrás.
Dica prática:
Use critérios objetivos: glasgow ≤ 8, cansaço respiratório, PaO₂ < 60 mmHg com FiO₂ alto, etc.
⚠️ 2. Não ter um plano B (e C)
A intubação não é garantida. E se der ruim?
Muitos médicos iniciantes confiam demais n
o “vai dar certo” e esquecem de montar plano alternativo:
- Máscara laríngea preparada
- Cânula de Guedel
- Dispositivo de ventilação não-invasiva
- Acesso à via aérea cirúrgica (cricotireoidotomia)
Exemplo prático:
Paciente com pescoço curto, obeso e pouca abertura oral → potencial via aérea difícil. Se você não tiver outra opção à mão, o desfecho pode ser desastroso.
⚠️ 3. Não checar o material antes do procedimento
Parece básico, mas é um dos erros mais frequentes no plantão.
- Laringoscópio com lâmina solta ou sem bateria.
- Balonete furado.
- Oxigênio desconectado.
- Cânula de tamanho errado.
Exemplo prático:
Você prepara tudo com pressa, entuba, mas na hora de ventilar… nada. O balonete estava furado. E agora?
Checklist de 30 segundos que salva vidas:
✅ Laringoscópio testado
✅ Cânula inflada e testada
✅ Fonte de O₂ ligada
✅ Aspirador funcionando
✅ Seringa, fitas e ETCO₂ prontos
⚠️ 4. Errar a dose ou o momento da medicação
Intubação sem droga ou com droga errada vira tortura pro paciente.
Erro comum: aplicar bloqueador neuromuscular antes do sedativo, ou sedar mal e o paciente “sentir tudo”.
Exemplo prático:
Midazolam isolado em paciente grave pode causar queda de pressão e dificultar a sequência.
Outro erro: usar succinilcolina em paciente com hiperpotassemia.
Dica rápida:
✔️ Sedativo primeiro (ex: Etomidato ou Ketamina)
✔️ Depois bloqueador (ex: Rocurônio ou Succinilcolina)
✔️ Cuidado com doses baseadas no peso real, especialmente em obesos.
⚠️ 5. Entubar e esquecer dos cuidados pós-intubação
O trabalho não termina quando o tubo entra.
- Falta de fixação correta do tubo
- Não confirmar posição com capnografia ou ausculta
- Não iniciar sedação contínua
- Pressão do cuff mal ajustada
- Não monitorar parâmetros ventilatórios
Exemplo prático:
Paciente acorda agitado 20 minutos após a intubação porque esqueceram de iniciar sedação contínua. Risco de extubação acidental, lesão e até parada.
🪙 Regra de ouro:
⚠️ “Quem intuba é responsável pelo que vem depois também.”
🩺 Estudo de Caso Clínico – “O Plantão da Intubação às Pressas”
Situação:
Homem, 58 anos, DPOC severo, chega em insuficiência respiratória grave. Saturando 84% com máscara não reinalante, agitado, confuso e dispneico.
Decisão:
Médico recém-formado opta por intubação de sequência rápida.
Mas:
- Não testa o laringoscópio
- Não calcula a dose da ketamina corretamente
- Não tem plano alternativo
- Entuba de primeira, mas esquece de inflar o cuff
- Ventila com ambu sem perceber vazamento
Resultado:
Paciente broncoaspira, desenvolve PAV e evolui para choque séptico 2 dias depois.
O que faltou?
☑️ Preparação do material
☑️ Planejamento de vias alternativas
☑️ Dose correta e sequência adequada de fármacos
☑️ Confirmação da posição do tubo
☑️ Cuidados pós-intubação
✅ Conclusão
A intubação orotraqueal vai muito além de “inserir um tubo na traqueia”.
O segredo está na antecipação, preparo e execução inteligente.
Evitar esses 5 erros pode ser a diferença entre salvar uma vida e causar uma tragédia.