Imagine a seguinte cena:
Chega um paciente politraumatizado, inconsciente, com sinais de choque e suspeita de fratura cervical. A pressão é real. Todo mundo olha para você. E nesse momento, a pergunta é inevitável:
“Como garantir a via aérea sem piorar a situação do paciente?”
A intubação no trauma é diferente.
Não dá pra fazer no modo automático. Aqui, cada detalhe pode definir se o paciente vive — ou não.
🔍 Por que a intubação no trauma exige cuidados diferentes?
Nos pacientes traumatizados, principalmente em ambiente pré-hospitalar ou na sala de emergência, existem variáveis críticas que mudam completamente o jogo:
- Risco elevado de lesão cervical → qualquer movimento errado pode causar uma lesão medular catastrófica.
- Estômago cheio e alto risco de aspiração → esses pacientes podem ter comido, sangrado ou aspirado conteúdo gástrico.
- Hipóxia, hipovolemia, agitação ou rebaixamento do nível de consciência → dificultam o manejo e aceleram a deterioração clínica.
Por isso, a abordagem precisa ser rápida, técnica e extremamente cuidadosa.
✅ O que muda na prática?
Aqui vão os pontos principais que você não pode ignorar:
1. Proteção da coluna cervical
Durante todo o processo, é obrigatório manter a imobilização manual da coluna cervical.
Se possível, um profissional deve ficar responsável só por isso, enquanto outro realiza a intubação.
💡 Dica prática: usar o videolaringoscópio facilita muito em pacientes com mobilidade cervical limitada.
2. Pré-oxigenação com máscara de alto fluxo
Esses pacientes não toleram dessaturação. Então, mesmo em casos de urgência, tente pré-oxigenar por pelo menos 3 minutos com O₂ a 100%.
🛑 E lembre: a pré-oxigenação NÃO substitui a segurança da técnica.
3. Intubação em Sequência Rápida é a mais utilizada
A IRS é a técnica mais utilizada nesses casos. Isso significa:
- Sedativo rápido (como Etomidato ou Quetamina)
- Bloqueador neuromuscular (como Succinilcolina ou Rocurônio)
- E zero ventilação com bolsa antes do tubo, para evitar distensão gástrica e vômitos.
4. Evite hiperventilação
É comum hiperventilar o paciente traumatizado, mas isso pode agravar o quadro, principalmente se houver TCE.
🎯 Ventile apenas com volumes controlados, frequência ideal e observe a capnografia.
5. Tenha o plano B pronto
A via aérea difícil é sempre uma possibilidade. Tenha aspirador, tubo de reserva, máscara laríngea e plano cirúrgico prontos.
💡 Resumo prático
Situação | Conduta |
---|---|
Suspeita de fratura cervical | Imobilizar coluna + intubar com mínimo de movimentação |
Vômito ou sangue na orofaringe | Aspiração imediata antes da intubação |
Paciente combativo | Sedação e bloqueio muscular com técnica de IRS |
Sinais de via aérea difícil | Ter todos os dispositivos alternativos prontos |
TCE grave | Evitar hiperventilação e manter normocapnia |
👨⚕️ Caso Clínico: Quando um segundo salva uma vida
Durante um plantão noturno no hospital, chega um homem de 34 anos vítima de colisão de moto. Inconsciente, com sangramento ativo e respiração ruidosa. Glasgow 6. A equipe se mobiliza.
O colar cervical já está no lugar. O oxigênio é iniciado. Você posiciona o videolaringoscópio enquanto outro colega mantém a coluna imóvel. O sangue na via aérea dificulta a visão. Você aspira, mas ainda não vê bem. A saturação cai.
Você respira fundo, pede para passar a máscara laríngea. Ela entra, a saturação melhora. Com calma e técnica, depois da estabilização, você realiza a intubação definitiva.
O paciente sobrevive. E no dia seguinte, te chama de “anjo”.
A verdade?
Você só seguiu o protocolo certo. E não hesitou em proteger o que importa.
✍️ Conclusão
A intubação no trauma é como jogar xadrez com o tempo correndo.
Se você se antecipa, domina a técnica e protege a coluna, a oxigenação e a dignidade do paciente — você ganha.
Se vacilar, o desfecho pode ser catastrófico.
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Porque quando a emergência chega… não dá pra improvisar.